terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu já desejei morrer.


Não estou falando daquele desejo fútil, daquela fala com toques de drama que adotamos em determinadas situações das nossas vidas. Estou falando de desejo genuíno. De desejo verdadeiro.

Eu estava internada havia poucos dias. Estava recebendo na veia a maior dose de analgesia que meu peso permitia, mas mesmo assim a dor era insuportável. Maior, muito maior do que eu era capaz de aguentar. Naquele momento, não pensei na minha filha que precisava tanto de mim, nem nos planos que eu ainda tinha por viver. Eu só queria que aquilo parasse. Que parasse de doer. E sim, eu quis morrer.

Tem pessoa muito próxima e muito amada que também já quis. Situação diversa, a dor  não era física, mas na alma. Mas de novo o mesmo desejo de que aquilo apenas terminasse. Esta pessoa tentou machucar-se. Graças aos céus, e a um parente que apareceu naquele momento, nada de mais grave aconteceu. No meu caso, no hospital, eu não tinha instrumentos para acabar com minha vida...mas acreditem, se eu tivesse, teria usado.

Quando descobri que hoje era o dia de prevenção ao suicídio, dia que nem sabia existir, a memória desses dois episódios veio à minha mente. Acredito que eu tenho um olhar diferente da maioria para este tema...porque eu SEI o que se passa na mente de alguém que termina com a própria vida. Sei, porque minha mente já desejou isso. Sei, porque pessoas que eu amo também já desejaram.

Não se trata de falta de alegria; nem de falta de amor à vida. Para falar a verdade, me considero uma pessoa de bem com a vida e com as dores que ela me impôs.

Quando finalmente a dor abrandou fui tomada por um arrependimento tão ou mais doloroso quanto a minha doença. Chorei pesadamente. Odiei-me por não ter sido forte. Como tenho religião, busquei o conforto da confissão e abrandei minha consciência. Mas aqui, para você, tenho que reconhecer que ainda me envergonho quando lembro disto. Quando penso que, se me permitissem, eu por escolha própria teria tirado da Isabel a mãe dela; e teria tirado de mim a alegria de estar viva.

Por isso eu acho que falar em prevenção ao suicídio é, antes de mais nada, falar em aceitação. É preciso que nós, que tentamos ou desejamos morrer possamos dizer o que nos aconteceu sem  reservas, para que os próximos que assim se sentirem não tenham a sensação de que são os únicos a sofrer daquela maneira. Prevenir o suicídio é, para mim, abrandar a dor (física ou na alma) daqueles que sofrem. É dizer para quem está sofrendo que a dor vai passar. E tentar tirar esta dor como for possível. A dor passando, a vontade de morrer passa também. Comigo foi assim. Com a outra pessoa que citei também.

Com você também será.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Dormindo com os pais

Ontem tive uma conversa muito bacana com um futuro paizão. Amigo de longa data, queridíssimo e que agora começou a se interessar pelas coisas do universo infantil, pois pretende fazer a encomenda para a cegonha ano que vem. Ele disse que gosta do que eu defendo, embora não concorde com tudo. E disse que não concordava com crianças dormindo na cama dos pais. Disse que os papais precisam de privacidade; e que a criança precisa de independência.

Engraçado como esses conceitos são fortes na nossa sociedade, né? Engraçado como a gente é levado a acreditar nisso como verdade dogmática. Sem refletir a respeito do que está sendo dito. Pois bem, este post é um convite à reflexão.

O ponto de vista do bebê
Quando a criança é pequena, o mundo aqui fora é bastante assustador. Até bem pouco tempo, ela vivia mergulhada em água morna, nunca sentia fome ou frio...ou sono. E estava dentro da mãe. De repente, tudo ficou seco, claro, barulhento...sensações desagradáveis passaram a fazer parte da rotina dos nossos filhos. Frio, fome, calor, sede...

O colo da mãe é o local mais parecido com o mundo intra uterino do qual ela sente falta. Os sons do corpo da mãe tão familiares, a voz da mãe, o peito da mãe. Peito que acalma, que mata a fome e a sede, que aquece, que tira a dor. Se pensarmos que o colo ainda é um pouco menos perto que dentro, veremos que não há nada mais natural do que a criança desejar ficar o tempo todo nesse colo acolhedor.

Coloquemo-nos no lugar daquela criança deixada no berço. Ela ainda não entendeu direito a dinâmica do "estou logo ali, no outro quarto" ela também nem imagina que aquele aparelhinho ali do lado faz a mamãe escutar tudo o que se passa. Tudo o que ela percebe é que a mamãe sumiu. O colo sumiu. O peito sumiu. Isso, para ela é desesperador. Apenas desesperador.  Sob esta ótica, ela se percebe deitada numa superfície plana, imóvel, silenciosa. Totalmente diferente do regaço mole, quente, acolhedor...dos ruídos do corpo da mãe...e do peito com leite.

Muita gente apela para substitutos: coloca um bonequinho, um cobertorzinho e uma chupeta. O bebê estranha a princípio, mas acaba se conformando. Eu gosto de comparar estes substitutos com um vibrador. Até quebram um galho, mas uma noite de sexo com o homem amado é bem melhor né?

Promovendo a Independência
Vejamos uma coisa: o bebê depende de nós para se alimentar, depende de nós para se vestir, depende de nós para ficar limpo. Resumidamente, depende de nós para viver. No campo físico, todos concordamos que um bebê é 100% dependente. Há, entretanto, uma crescente e desesperada necessidade de tornar nossos bebês emocionalmente independentes. Ninguém espera que um bebê de 3 meses se alimente sozinho; assim como não esperamos que uma criança de 14 anos não o faça. Penso que com a parte emocional aconteça fato semelhante: bebês são dependentes de nós. Com o passar do tempo, com o amadurecimento natural que vem com a idade, essas crianças irão se tornando mais e mais autônomas do ponto de vista emocional.

Por que, então, apressar as coisas? O que ganharemos deixando sozinhas no seu quarto crianças sem maturidade emocional para tal? Não fazemos isso com comida, ou com banho. Por que acreditamos que o aspecto emocional deve ser tratado de forma diferente?

Para mim, a comprovação máxima de que nossos bebês humanos não foram feitos para ficar sozinhos à noite no início das suas vidas é o fato de que eles precisam mamar regularmente durante toda a madrugada. A Natureza sabe das coisas: nossos bebês chamam suas mães encasteladas em seus quartos a cada 30, 40 minutos. Chamam, porque deveriam estar perto delas. Chamam porque sem elas presentes durante a noite, morreriam.

Não conheço um único bebê que tenha se acostumado a dormir só sem choro. Alguns choram por duas noites, outros por 6 meses. Mas TODOS choram. Não acho que chorar seja natural...o choro é a maneira como nossos bebês dizem que algo vai mal. Bem, ignorar que algo vai mal não me parece uma forma muito digna de tratar pessoas. Não se enganem: bebês são pessoas que nasceram há pouco tempo.

Claro que todos queremos que nossos filhos cresçam e se tornem pessoas independentes; autônomas. Mas, novamente convido à reflexão: joguemos uma criança numa piscina e a deixemos "se virar" até aprender a nadar. Deixemos nesta mesma piscina uma outra criança presa a bóias. Não tenho dúvidas de que a primeira aprenderá a nadar primeiro, por uma questão de sobrevivência. Mas também não duvido que chegará o dia em que a segunda dirá que quer tirar as bóias. Talvez ela precise, nos primeiros mergulhos sem bóia, da mão amiga de sua mãe. Mas, certamente, chegará o dia em que ela soltará feliz a mãe e nadará sozinha, autônoma e confiante. O que queremos para nossos filhos? Rapidez ou qualidade? Medo ou respeito?

Namorar é Preciso
Sempre que digo que durmo com minha filha na minha cama, alguém vem perguntar da vida sexual. De fato, vivemos numa sociedade que hipervaloriza o sexo...qualquer coisa que atrapalhe o encontro sexual do casal é visto com pouquíssima simpatia.

Depois que me tornei mãe, aprendi o valor do abraço. De dormir abraçadinha com meu homem. Sinto mais alegria naquele copo d'água enquanto amamento do que em qualquer buquê de flores. Sintonia de casal é bem mais do que encontro sexual. O casal pai e mãe depressa aprende isso: cumplicidade muito além do encontro físico. Se entreolhar feliz depois de 4 horas de choro por conta de uma cólica e, simplesmente, dormir jogados no sofá enquanto aquele filme bacana passa na TV...

Se enganam aqueles que acham que continuarão com a mesma vida de casal apenas por deixarem seus bebês no quarto ao lado. Duvido que uma mulher que se levanta da cama 4, 5 vezes por noite para amamentar tenha disposição para uma rodada de sexo selvagem. Duvido que um homem (considerando homens efetivamente parceiros) que levantou-se para colocar para arrotar seu bebê nessas mesmas 4 ou 5 vezes cogite velas e chicotes. Ter um bebê é, sem sombra de dúvida, dar uma pausa na vida sexual.

Agora pensemos que este casal não levantou uma única vez a noite toda. Imaginemos que este bebê dormiu ao alcance da mão da mãe, que mamou deitadinho e bem abraçadinho com sua mãe...e que, por sentir logo ali o corpo da mãe, acordou menos; dormiu mais rápido. Todos acordaram mais descansados. As chances de haver disposição para uma bela rodada de sexo aumentam consideravelmente, não?

Mas...como transar se o bebê está na cama do casal? Criatividade! Nunca antes aquela soneca do bebê no meio da tarde teve tanto valor; ou o chuveiro, sofá da sala...ou o quarto do bebê...ou a cozinha. Com jeitinho, dá até para "transferir" o bebê para o berço por algumas horas e transgredir transando na cama de casal! Pensar que sexo é só à noite e na cama faz a vida muito sem graça não é? Isso vale até para casais sem filhos. Inovem, meus amigos!!

Minha Experiência Pessoal
Quando Isabel nasceu, acreditava que bebês tinham que dormir em seus berços. Depois dos primeiros meses dormindo no carrinho ao lado da nossa cama, passamos para o esquema berço-choro-babá eletrônica. Marido era o responsável por pegar a Bel do berço, trazer para mim, trazer um copo d'água enquanto ela mamava. Depois, revezávamo-nos na tarefa de botar para arrotar, trocar a fralda e fazer dormir. Dias cansativos, rotina pesada, pai e mãe destruídos pela manhã.

Um dia, o pai da Isabel decretou: essa menina vai dormir aqui! Não levanto mais para pegá-la! Ah, quanta delícia! Ela acordava menos, mamava sossegada. Aprendi que não havia necessidade sequer de colocar para arrotar. Apenas a levantávamos de leve quando ela apresentava algum desconforto. E isso era fácil de perceber, ela estava ali, do meu lado.

Perto de fazer dois anos Isabel me disse "mamãe, não quero dormir no seu quarto. Quero dormir no meu quartinho." E foi assim, sem uma única lágrima, que ela passou a dormir todas as noites, a noite toda, no quarto dela.

Passados alguns meses, um furacão abalou a família. Eu e o pai da Isabel nos separamos. Pouco depois, fiquei gravemente doente, fui hospitalizada, passei 21 dias sem contato algum com a minha filha. Ela passou 3 meses sendo cuidada pelas minhas tias, quase sem contato com os pais. Dias negros.

O furacão passou quando ela tinha quase 2 anos e meio. Retomamos o casamento, melhorei de saúde e...Isabel voltou a precisar dormir conosco. Natural retorno. A segurança que ela tinha foi duramente quebrada. A certeza de que acordaria e veria os pais perto dela não existia mais. Voltamos a dormir os 3 na mesma cama e estamos assim até hoje, às vésperas do terceiro aniversário dela.

Na verdade, ela anda demonstrando que quer novamente dormir na caminha dela. A caminha está lá, disponível. Sempre que ela demonstra que deseja, ela vai para seu quartinho. Dorme lá serenamente. E sempre que precisa do contato e do calor dos nossos corpos, vem para a cama do casal. Devagar, no ritmo dela, ela vai finalmente se tornando...independente!

UPDATE
Se interessou? Leia mais sobre cama compartilhada, fisiologia dos nossos bebês e normas de segurança aqui:
Dormir junto com o bebê e necessidades biológicas: por quê bebês humanos não dormem e nem deveriam dormir sozinho - Soluções para noites sem Choro 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Carta à Amiga Ativista

Querida amiga ativista,
Talvez você nem se lembre mais disso, mas eu gostaria de conversar sobre a Marcha das Vadias que aconteceu durante a Jornada Mundial da Juventude, que você andou chamando de "a vinda do papa". Sabe o que é? Apesar do tempo que já passou, não consigo esquecer aquilo. E eu queria que você soubesse disso.

Quando aquelas manifestantes quebraram imagens para mim tão queridas, não vou mentir: fiquei MUITO PUTA. Queria que você entendesse, para mim aquelas imagens também não passam de gesso e tinta; não são divindades, nada assim. Mas uma fotografia da minha Isabel também é só papel e tinta e se alguém a queimasse ou rasgasse também me irritaria da mesma forma. Você, provavelmente, é mãe. Pensa numa fotografia do(a) seu(a) filho(a). Talvez você entenda meu sentimento naquele momento.

Para falar bem a verdade, aquelas moças (embora tenham me aborrecido), não me surpreenderam. Gente idiota fazendo coisa idiota tem em todo lugar, infelizmente. O pior, o dolorido veio de você. Quando vi na sua TL que você apoiava a postura delas. Quando li aquele link que você compartilhou, com um texto dizendo que a Igreja Católica era inimiga das lutas pelos direitos das mulheres, dos gays...saiba que naquele momento você me magoou. Queria que você soubesse disso.

Você me magoou porque a Igreja a que você se referiu sou eu. E, sabe, não me sinto inimiga de ninguém. Muito menos de gays e mulheres. Achei que você soubesse disso. Nós, que temos tanto em comum; que lutamos por tantas causas lindas lado a lado. Até aquele momento, eu acreditava que era possível pessoas diferentes se fixarem nos pontos em comum. Uma vez um gay me disse, ao saber que eu sou católica, que nós dois fazíamos coisas que o outro não faria. Eu vou à missa e ele namora homens. Na minha cabeça inocente, a dinâmica era esta. Algo em mim quebrou ao ler sua opinião raivosa sobre a minha fé...sobre mim.

Você discursa tão bem sobre liberdade, sobre justiça, sobre amor...acho que por isso esperava que você, mesmo sem concordar com minha religião, levantasse a bandeira da tolerância. Quando vi na sua mão a bandeira negra no lugar da branca, fiquei surpresa, fiquei sem chão. Ainda dói lembrar.

Não sei se você notou, mas ando mais calada. Não consigo dar aquele sorriso largo de antes para você. Se te encontrei pessoalmente, provavelmente você viu uma Mari mais retraída. Se você é amiga só de face, provavelmente as conversas inbox deram uma esfriada. Entenda, por favor, não é por mal. Estou tentando superar, mas acho que vou levar um tempo ainda. Saiba também que você não é uma só. Você são muitas. Amo todas ainda, mas estou superando o trauma.

A ordem que recebi da minha Igreja na ocasião foi claríssima: não discutir, não brigar. A orientação dada foi, quando sentir raiva, rezar uma (ou duas, ou dez, ou mil) Ave Maria e perdoar. Abrandar o coração. Viu só como a Igreja não quer ser sua inimiga? Foi por causa desta ordem que eu demorei a escrever. Precisei deste tempo para abrandar meu coração a ponto de falar com você amorosamente como, aliás, você merece por tudo o que você é. Ainda não consegui te perdoar, viu? Mas estou em oração para isso. Sei que vou conseguir.

Um beijo,
Mari

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre JMJ, protestos, religião e política

Ontem uma amiga-querida-parceira-ativista me fez a seguinte pergunta: "como fica o coração católico-ativista com atos na recepção do papa?" Confesso que achei engraçada a pergunta. Engraçado porque vejo esta separação: católicos (cristãos) e ativistas estão do mesmo lado desta trincheira. Olhando a vida de Jesus percebemos claramente o quão revolucionário e, por que não, político Ele foi em suas declarações e atitudes: basta ver como Sua presença incomodou os poderosos da época.

Muita gente defende que política e religião não se misturam. Eu discordo. Acredito que uma fé apolítica é uma fé vazia; uma fé alienada. Não é esta fé que eu professo. A minha fé é uma fé de atitude, uma fé de obras, como diria pe Dehon. A minha fé cristã me faz ir às ruas por mais igualdade; ou por mais respeito ao parto e ao nascimento. Isso é ser cristão. Ser cristão não é ficar 24h enfiado na igreja olhando para o próprio umbigo. O nome disso é acomodação.

Mas voltando à JMJ e ao atual momento de tensão que vivemos em nosso país. Primeiro tenho que dizer que não é coincidência. Acho que será excelente nos manifestarmos agora, quando o mundo nos estará olhando. Será que nossa polícia terá coragem para atacar covardemente os manifestantes na frente do papa - e das lentes da imprensa mundial? Espero que não mas, se fizer, certamente teremos mais força na nossa defesa. Deus sabe das coisas, e acredito que nos mandou tantos eventos internacionais na hora certinha.

Depois que a pergunta foi lançada à minha mente, fui lendo uma coisa aqui, outra acolá e percebi duas situações bem interessantes. De um lado, a grande mídia com manchetes como "Abin avalia que manifestações podem ser 'fonte de ameaça' à JMJ" (O Globo de hoje); e de outro, os noticiários católicos dizendo coisa bem diferente. Olha só este trecho, que eu extraí do blog da Canção Nova:

"Os manifestos fazem parte de um país democrático, diz Dom Orani, e demonstram a voz do povo insatisfeito e que reivindica um Brasil mais justo, com mais saúde e educação para a população.

É nesse sentido que Dom Orani destaca a JMJ como um evento positivo, que traz também o sonho da juventude consigo. “Uma juventude que tem valor; valores cristãos que também querem mudar o mundo com um coração de justiça e de paz e que pode dar um olhar diferente para estas reivindicações aqui no Brasil, na sua maioria, com o desejo de buscar tempos melhores”.

Para o arcebispo, a Jornada é uma boa proposta para que a juventude de todo o mundo manifeste seu desejo de fazer a diferença, impulsionada por valores cristãos. Segundo ele, os católicos, por meio da JMJ, podem também reivindicar e colaborar para a melhoria das realidades no país."

Aí eu me pergunto: a quem interessaria colocar a juventude católica - e a própria Jornada - como opositora às manifestações? A quem interessa a desunião? Pergunto ainda qual seria uma fonte de informação mais confiável. O jornal que mostrou os manifestantes como vândalos criminosos, na minha opinião, não é confiável.

Nestes próximos dias estarei bastante envolvida com a JMJ. Finalmente ela chegou!! Foram cerca de dois anos de expectativa, preparação, planos...por tudo isso, nos próximos dias me reservo o direito de viver a Jornada como católica que sou...mas vou adorar aplaudir alguma manifestação que cruzar nossas procissões. Estamos juntos por um país melhor e mais justo!

(escrevi este post super na correria, apenas para não perder o momento...perdoem a "tosquice", sim?)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Não é Fácil

Sábado fomos a uma papelaria para comprar massinha de modelar. Quando chegamos, Isabel pediu para comprarmos tintas, e não massinhas. Concordei. Poucas vezes na minha vida vi a filha tão satisfeita escolhendo as cores, juntando os potinhos escolhidos no saquinho plástico. Voltou para casa numa agitação, sorriso largo. Chegou em casa gritando "papai, mamãe comprou TINTAS!"

Logo ali, na porta mesmo, abriu os potinhos, pegou um livro de historinhas e começou a pintar. Feliz! Pintou o papel, pintou o rosto. Fui para a cozinha na certeza de estar fazendo minha filhotinha amada mais feliz.

Voltei alguns minutos depois. Nada neste mundo me preparou para o que eu vi: uma parede inteira da minha sala estava tomada por carimbinhos de mãos, nas mais variadas cores. O mesmo aconteceu com o sofá. Tudo pintado e colorido. No meio do mosaico, Isabel com ambas as mãos (e o rosto, e o corpo) cobertas de tinta;ainda completava o trabalho de pintura da sala...

Raiva. Foi isso que eu senti. Um arrepio na espinha, um sentimento de injustiça: como ela pôde fazer aquilo COMIGO? Por que ela sujou daquela maneira a minha sala?? Logo eu, que faço tanto por ela, não merecia aquilo.

-Isabel, por que você fez isso? Não sabe que não pode rabiscar a sala?
-Mas é tinta, mamãe. Não ficou lindo?

A raiva crescia dentro de mim. Um vulcão de sentimentos - todos ruins - tomava conta de mim. - Está HORRÍVEL, minha filha. Você sujou a minha sala toda. Não sabe que sujeira é só no seu quarto?? Como você teve coragem de fazer isso?

Em algum momento que não posso precisar, o meu tom de voz se elevou. Sim. Gritei. Tive ganas de bater. Lá longe, muito longe, a voz do marido me chamava à razão "calma, Mari!". Não estava nada calma. Estava enfurecida! De feliz, Isabel estava séria, algo chorosa. As mãozinhas ainda sujas longe das paredes, mas sem destino. Sentei no chão atônita.

Ela se aproximou de mim e...me bateu. Me sujou a roupa toda. Blusa nova. A raiva só crescia.

Minha filha tem esta difícil característica: quando ela se sente injustiçada ou pressionada, ela agride. Sei disso, pois já vi este comportamento infinitas vezes. Sempre que vejo isso, tento primeiro acolhê-la, fazê-la se sentir confiante, para depois resolver o problema principal. Isso, aliás, já foi muitas vezes interpretado pelos críticos como falta de pulso, ou falta de limites, ou como não deixar claro o erro dela...

Mas não desta vez. Agora, eu estava fora de mim. Eu estava absolutamente furiosa contra ela. Só tive forças para dizer "sai de perto de mim." Ela olhou pra mim, olhou pro pai, de novo pra mim. O pai a pegou e a levou para o quarto. Gritei (é. Gritei de novo) para que ele não a deixasse sozinha. Dessas coisas que não sabemos explicar, algo em mim sabia que não seria bom ela ficar sozinha.

O pai fechou a porta. Ouvi seu choro, seu grito. Ela não parava de me chamar. Sentada estava, sentada continuei. Poucos instantes depois ela abriu a porta e veio correndo. Parou na minha frente sem me tocar. Simplesmente parou, me olhou e chorou.

Seus olhos tristes me comoveram. Não suportei ver minha filha sofrendo. Aos poucos, como pauladas na alma, as palavras dela me voltavam à mente..."não é rabisco, é tinta" ... "não está lindo, mamãe?" ... "não é sujeira"... Agora eu estava chorando também. O pai, de pé e de longe, só assistia à cena.

- Filha, me dá um abraço?
- Mas minha mão está suja, mamãe. Eu vou sujar sua roupa...

Outra paulada bem forte na alma.

Tirei minha blusa, fiquei só de sutiã. Olhei nos seus olhinhos tão acuados; tão desprotegidos. Pedi novamente um abraço. Nova recusa. "Estou toda suja." "Não é sujeira, filha. É tinta. Abraça a mamãe, por favor." Ela ainda chorava e continuava imóvel na minha frente.

Peguei suas mãozinhas, olhei nos seus olhos e disse com muita sinceridade: "filha, mamãe está nervosa. Você também está nervosa. Mas a gente vai resolver isso juntas, tá? Vamos nos acalmar, de cabeça quente nada se resolve. Mais tarde a gente resolve isso, tá?"

- Tá bem.

Vi tanto desamparo na minha criança, que agora, escrevendo, volto a ter vontade de enfiar uma espada na minha cabeça.

Peguei lenços umedecidos, "limpei" as mãozinhas dela. Ela em silencio enquanto eu repetia. Mamãe ficou muito nervosa. Vamos resolver isso. Tudo vai ficar bem. Vamos resolver juntas. Mamãe te ama. Me dá um abraço, por favor?

Abracei minha filha. Abracei aquele serzinho tão indefeso, tão amoroso; mas que, havia pouco, me fez sentir raiva. Do abraço ela pediu para mamar. Mamou sem me olhar nos olhos...rostinho ainda inchado do choro. Acariciei meu neném. Ela dormiu sem almoçar.

Olhando para minha filha ali, dormindo no meu colo, ainda com as marcas do que começou como brincadeira e terminou tão mal, chorei. "Eu gritei com ela! Como eu pude gritar com a nossa filhinha?" O marido me olhou, acariciou meu rosto e me disse "eu vi o teu esforço. Estou orgulhoso de você. Não se preocupe, ela ainda te ama muito." E eu chorei.

O marido precisou sair, almocei sozinha, de costas para a parede recém-colorida. Ela acordou no meio da tarde. Dei o almoço. No finzinho ela apontou a tal parede e perguntou "está lindo ou feio mamãe?"

-Filha, na sala a mamãe prefere as paredes sem as suas pinturas. Pintura de criança não combina com sala. Combina - e fica lindo - no seu quartinho! Lá a mamãe acha lindo!

Peguei dois panos, umedeci. Chamei minha filha para tirar a pintura (tomei um cuidado quase cômico para não falar "limpar"; ou "sujeira"). No início ela não se animou, mas depois empenhou-se de verdade na tarefa. Passamos a tarde tirando tinta da sala. Da parede, do chão, do sofá...foi divertido! Muito divertido.

-Quando o papai chegar, vai adorar ver a sala sem tinta né, mamãe?
-Vai sim!! Ele vai ficar orgulhoso de você.
-Por que eu consertei as coisas?
-É sim! Você está sendo muito responsável!

Claro que a sala vai ganhar nos próximos dias uma pintura nova. E o sofá, uma capa. A mamãe, essa aprendeu mais uma difícil lição nessa aventura de cuidar de crianças: nunca estamos tão preparadas que não possamos nos descontrolar. E nunca é demais tentar olhar as coisas sob a ótica das crianças. A regra dizia que não se podia rabiscar as paredes da sala...ninguém falou nada sobre tintas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vamos Falar da Vara?

Quem me conhece sabe que antes, muito antes, de ser mãe, sou católica. Na minha juventude, dediquei grande parte do meu tempo sendo dirigente de grupo, missionária, catequista e outros. E que, até hoje (embora tenha optado, com o casamento, por dedicar meu tempo livre à minha família), sou fiel da Igreja Católica Apostólica Romana. Do tipo que se confessa e vai à missa todos os domingos. Do tipo que acredita naquilo, e ensina isso para a filha. Do tipo que defende que Páscoa não é a festa do coelho; nem Natal a do papai noel.

Ao me tornar mãe, descobri um novo significado para a palavra Amor. Amor de Deus, amor de mãe, amor demais! Nunca antes aqueles ensinamentos fizeram tanto sentido. Deus nos ama como eu amo a Isabel. Lindo, perfeito e complementar.

Justamente por amar minha filha saída de mim, tento respeitá-la o mais que posso. Justamente por respeitá-la, tento não fazer com ela o que eu não desejaria que fosse feito comigo. E é por isso que não bato nela (não! nem uma palmadinha...). E é por isso que não a coloco no "cantinho do pensamento". E é por isso que nunca, nunca mesmo, nunquinha, digo ou a levo a crer que não a amo; ou amo menos; ou estou decepcionada quando ela faz algo reprovável. Tento não subjugá-la. Tento direcioná-la com amor; fazê-la querer fazer o bem, fazer o certo.

Aliás, foi assim que Deus agiu conosco também, né? Nós vivíamos em pecado, longe dEle. Merecíamos a perdição. Deus, nosso pai de Amor, não permitiu. Fez-se homem, padeceu pelo meu (e pelo seu) pecado. Deus não nos fez "arcar com as consequências dos nossos atos". Deus perdoou. E perdoa sempre. Não nos exige sacrifício ou castigo para isso. Exige apenas que nos arrependamos. Se Deus, melhor que eu em tudo, não me castiga; por que eu me consideraria no direito de castigar uma criança? A minha criança?

Pois, para a minha surpresa, descobri que um número bem razoável de irmãos de fé utilizam a Bíblia como argumento para...bater nas crianças! Segundo este grupo, os ensinamentos das Escrituras, especialmente os do livro dos Provérbios, Deuteronômio e Eclesiastico, não apenas dão autorização para que se bata, como exigem que tal postura seja adotada. Vamos aos trechos:

"Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos." Provérbios 23, 13-14

"Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa." Provérbios 13, 24
 


"A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á dela." Provérbios 22, 15 

Sempre que li estes ensinamentos, peguei a lição de que os pais não devem se furtar da obrigação de educar seus filhos, mostrar a eles o caminho certo a ser seguido; ensiná-los a ser pessoas de bem.  Sempre vi a "vara" como símbolo da disciplina e não como violência literal. Foi aí que ouvi, das pessoas que defendem a idéia de que a Bíblia apoia bater em crianças, que tudo ali escrito deve ser seguido ao pé da letra, de forma literal. Então, vejamos estes trechos:

"Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado com ela.
E o primogênito que ela lhe der será o sucessor do nome do irmão falecido, para que seu nome não se apague em Israel." Deuteronômio 25, 5-6

Será que algum dos irmãos de fé que defende seguir a Bíblia sempre de forma literal pensaria seriamente em transar com a cunhada viúva? Ou seria esta uma mensagem para não deixarmos a tal cunhada abandonada à própria sorte após a viuvez? No seu contexto original, em que uma mulher sem marido e sem filhos estava condenada à mendicância, fazer nela um fiho (de forma literal) fazia sentido; e era mais que um gesto de caridade...mas nos dias de hoje isso é impensado. Porque, então, não podemoas refletir à luz dos dias atuais em relação aos castigos físicos para crianças?

Ou este ainda:

"E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno." Mateus 5, 30

Nunca tive notícias de um irmão de fé que, após ter batido na esposa; roubado algo ou apontado o dedo acusatório para alguém (atitudes sabidamente erradas - de pecado) tenha se arrependido e decepado a mão. Gostaria de acreditar que nenhum seguidor de Cristo comete tais atos. Mas a verdade é que, quando nos arrependemos, passamos a evitar as situações que nos levam a pecar. Esta é a mensagem da Bíblia. De novo pergunto: se ninguém cogita arrancar a própria mão, porque aceitamos bater nas crianças?

Para quem não está familiarizado com a Bíblia, este trecho faz parte do famoso - e lindíssimo - Sermão da Montanha. Nele, Jesus nos diz muitas  vezes "vocês ouviram o que foi dito (...), mas Eu lhes digo (...)" E aí Ele vai citando passagens do Antigo Testamento, e vai-lhes ampliando o significado. No caso aqui descrito, Jesus cita o sétimo mandamento do Decálogo, que proíbe o adultério. Neste contexto, ele explica que olhar com más intenções uma mulher já é cometer adultério...e aí, para evitar o pecado, ele diz para lançarmos fora o olho que nos faz pecar; ou a mão que nos faz pecar. Certamente querendo explicar que tudo aquilo que nos faz pecar deve ser eliminado da nossa vida; por mais que sejamos apegados. Não. Deus não nos quer decepados, pode acreditar.

Como estes, teria outros tantos trechos bíblicos, carregados de ensinamentos corretos e que devem ser seguidos, mas que precisam ser lidos à luz da inteligência e do discernimento (ambos dons de Deus, pois não?). Sempre acreditei que a verdadeira fé não desconsidera o fato de sermos seres pensantes. Sempre questionei muito as coisas. E posso afirmar sem medo de errar que, quanto mais estudo, mais descubro como os ensinamentos de Deus são corretos e sábios. Mas que precisam ser compreendidos em sua totalidade.

Pesquisando sobre o tema em outras fontes que considero confiáveis, deparei-me com esta bonita oração/pregação da consagrada Salette Ferreira. Nela, a missionária diz claramente que a vara, nesta passagem, não significa o objeto que machuca a criança, mas, sim, a correção, a importância de mostrar o que é certo e o que é errado. Fala também que não devemos, nunca, nos omitir diante dos erros dos nossos filhos; e, de quebra, lembra a importância do exemplo: lembra que o modo como nos tratamos enquanto casal (e aí eu extendo isso a todos os tipos e arranjos familiares) terá reflexo direto na maneira como nossos filhos se comportarão.

Também gostaria de recorrer ao Catecismo da Igreja Católica. Catecismo, como devem saber, é um termo vindo do grego, que significa ensinar, instruir. O Catecismo da Igreja Católica é, assim, uma exposição da fé católica elaborada pelos Magistrados da Igreja. Um texto em linguagem atual, que explica de forma organizada os elementos fundamentais da fé cristã. Pessoalmente, recorro sempre a ele, me ajuda muito (e você pensava que ser católico era só ir à missa e participar de procissões hein?). Vamos a ele:


§2223 Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos. Dão testemunho desta responsabilidade em primeiro lugar pela criação de um lar no qual a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegação, de um reto juízo, do domínio de si, condições de toda liberdade verdadeira. Os pais ensinarão os filhos a subordinar "as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais." Dar bom exemplo aos filhos é uma grave responsabilidade para os pais. Sabendo reconhecer diante deles seus próprios defeitos, ser-lhes-á mais fácil guiá-los e corrigi-los:

"Aquele que ama o filho usará com freqüência o chicote; aquele que educa seu filho terá motivo de satisfação" (Eclo 30,1-2). "E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e correção do Senhor" (Ef 6,4).

Educar crianças nunca foi, nem nunca será tarefa fácil. Quando nos dispomos a ter filhos, temos que ter isto em mente. Deus, em sua sabedoria, mandou-nos diversos recados para que não tentássemos escapulir desta tarefa: cabe aos pais, com seu exemplo, suas atitudes e sua coerência, educar e orientar os filhos. Já acreditava nisso antes, mas agora, depois de refletir um pouco mais sobre o assunto, ficou claro para mim que Deus nos mandou este recado: não fujam à responsabilidade que é de vocês! Não fujamos! Eduquemos, orientemos...sem esquecer o que a Bíblia nos ensina a respeito do trato com o próximo (e há próximo mais próximo que nossos filhos?):

"Não oprimirás o teu próximo, e não o despojarás." Levítico 19,13a
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe." Marcos 12,31

E, por fim, as palavras do próprio Jesus:

"Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham." Marcos 10,14

Observações/Comentários
Recorri como fonte de pesquisa a três traduções diferentes da Bíblia, que são as que tenho aqui em casa: Ave Maria, CNBB e Jerusalém.

Agradeço imensamente a todas as pessoas - católicas ou não - que me ajudaram a elaborar este post. Deu trabalho, viu? Torrei a sacoleta de muita gente boa...valeu, gente! Vocês são demais!

Acho que mais importante do que ter ou não uma religião, é respeitar o próximo tal como ele é. E entender que nem tudo o que é bom para mim é bom para o vizinho. Não está certo tentar obrigar quem não vive segundo uma religião a seguir-lhe os preceitos.

Vida que segue. Aos trancos, mas segue

Resolvi que já era hora de voltar a frequentar salão de beleza. Tanto tempo doente, tanto tempo com o cabelo caindo...a vida andou me maltratando. A estampa tá precisando ser cuidada. Foi assim que, esta semana, fui ao salão.

Conversei com a querida cabelereira porque né, ainda não posso usar a maioria dos produtos. Então, só queria mesmo lavar, cortar e escovar.

O cabelo tava ruim. Caiu muito, está ressecado. Os buracos sumiram, mas existem hoje, ao redor da cabeça, uma multidão de fios com uns 10cm apenas de comprimento...e uns poucos - pouquíssimos - sobreviventes do cabelo original. Ela olhou, olhou e decretou: vamos tirar só uma pontinha de nada. Conforme os cabelos novos cresçam, a gente vai melhorando o corte.

Aí partimos para a escova. Fiquei lá, vendo o meu cabelo ralo, sem brilho, sem vitalidade ser esticado com ar quente. Irônico, né? Passei toda a minha vida preguejando contra o volume dos meus cabelos, e agora ver aquele tico minguado que habita a cabeça foi me dando uma angústia...

Nunca mais tinha ficado tanto tempo me olhando pelo espelho. Na verdade, ando fugindo de espelhos. Mas agora, ali, era eu e o espelho. Eu e minhas olheiras. Eu e a pele flácida. Eu e a pele sem brilho. Eu e a sobrancelha por fazer. Eu e meu cabelo minguado sem vida. Eu e as marcas dos últimos meses. Chorei.

O choro começou com um nó na garganta...nó na alma. Tanta coisa. Tanto amargor sufocado...quero ser forte, quero ser feliz. Me forço a felicidade. Não entrego os pontos. Mas ali, diante de uma Mariana nada bela, diante de uma Mariana sem viço, sem cor...naquele lugar onde tantas vezes me senti a mais poderosa das mulheres, onde reforçava para mim mesma que eu era o máximo...doeu. E eu chorei.

Não chorei apenas a aparência. Chorei tudo o que passou. Chorei quase ter morrido. Chorei não poder mais ser aquela que fui. Chorei agora com força. Chorei de soluçar. Chorei de chacoalhar o corpo todo. Chorei de saudade de mim. Porque ali, naquela cadeira, eu já tinha sido aquela que não sou mais. Ali, naquele salão, eu sorria, tomava espumante, brincava e era bela. Eu não tinha medo do sol, nem do formol dos produtos. Eu era poderosa.

A cabelereira parou assustada. Me abraçou, chorou comigo. Perguntou se eu queria parar. Não, não queria. Vamos "menospiorar" a fachada! Vamos fazer o que der. Aos opucos vai melhorando. O pior já passou.

O cabelo ficou mais ou menos. A alma saiu aliviada. Chorar é bom. Alivia a gente.

Semana que vem eu volto. Acho que vou fazer uma hidratação...
:)